Pano de Fundo
Pensa comigo, existe lugar melhor para se estar do que na zona de conforto?
O problema da zona de conforto é que nada acontece lá. Bem, nada de diferente, quero dizer.
A zona de conforto é aquele lugar onde temos descanso, tudo está sob controle, tudo funcionando, cada coisa no seu lugar, cada pessoa no seu papel e a vida segue em frente num moto-contínuo.
A bem da verdade, o ser humano adora estar na zona de conforto. É um refúgio onde tudo é plenamente previsível. E mais, se você alcançou sua zona de conforto, porque iria querer sair dela?
Uma vez ouvi um palestrante perguntar: você conhece alguém que tenha crescido como pessoa na zona de conforto? Eu até me desliguei da palestra por alguns instantes para pensar se eu conhecia alguém, mas a resposta foi não. Eu mesmo, refletindo no meu desenvolvimento pessoal, todas as transformações que ocorreram ao longo da minha vida foram fora da minha zona de conforto.
Não é questão de “se”, mas de “quando”
Você pode até perguntar: mas e se eu não quero sair da zona de conforto? Bem, posso afirmar com segurança que não é uma questão de “se” você vai sair ou não da zona de conforto. É uma questão de “quando”.
Permita-me colocar de outra maneira: ou você sai da zona de conforto deliberadamente e aprende a sobreviver fora dela, ou a vida vai te empurrar para fora dela em algum momento e te pegar de surpresa. Pode ser que você perca seu emprego, pode ser uma doença, pode ser uma crise familiar, pode ser uma crise financeira e pode ser tanta coisa que seria impossível enumerar.
Todavia, é fora da zona de conforto que aprendemos mais sobre a vida, sobre as pessoas, sobre com quem você pode contar em sua caminhada, sobre o ambiente a sua volta e o mais importante: você aprende mais sobre você mesmo(a).
E o que é preciso para atravessar os momentos que saímos (ou somos empurrados para fora) da zona de conforto? Sem dúvida alguma, a principal é a resiliência.
A resiliência te equipa para você ter equilíbrio emocional no enfrentamento das adversidades. Veja esse fato real que aconteceu comigo.
Perdi o voo para Paris
Certa vez, minha esposa e eu planejamos uma viagem por vários países da Europa. Ainda no aeroporto, aguardando o embarque da ida, tomando um café sossegadamente, ela me fez uma proposta que jamais vou esquecer. Ela disse algo assim:
– Sabe, por mais que a gente tenha planejado tudo nesta viagem, certamente algumas coisas não vão sair como planejado e o inesperado vai acontecer. Se nós começarmos a discutir e brigar, tentando um jogar a culpa no outro, vamos brigar e estragar uma viagem maravilhosa. Que tal, já sabendo disso, fazermos um acordo de cooperarmos um com o outro em vez de discutir e brigar?
– Você tem razão. – respondi – Espero que nada dê errado, mas se der, vamos conversar calmamente.
Jamais vou esquecer esta cena e este acordo que fizemos. Vou te confessar: muitas coisas deram errado. A pior dela foi perdermos um voo entre Milão e Paris. Fizemos muitos vôos internos na Europa, alguns saindo 5:30 da manhã. Mas esse, que era a uma hora da tarde, perdemos.
Chegamos de trem ao aeroporto de Milão, na Itália, e tudo parecia deserto. Procurei o balcão da companhia aérea e não tinha uma viva alma. Fui me informar no balcão de outras companhias sobre outros vôos e nada. Nenhuma opção para o mesmo dia e todas as opções disponíveis eram muito caras.
Esta foi a pior adversidade. Meu nível de estresse e de impaciência foram ao máximo. Como eu me culpei por ter calculado errado os tempos de saída do hotel, de horário e trajeto do trem até o aeroporto, e do deslocamento interno no aeroporto, que também foi grande. Sentei e queria chorar.
A Resiliência em Ação
Foi nessa hora que minha esposa calmamente me lembrou do nosso acordo de antes de embarcar. Eu estava inconsolável, mas, diante das palavras dela resolvi reagir.
Peguei o celular e comecei a pesquisar passagens aéreas. Nada. E fui pesquisar passagens de trem. Uau! Ainda no aeroporto encontrei duas passagens de primeira classe da estação central de Milão direto para Paris. Hesitei de comprar pelo celular. Pegamos as malas e corremos para pegar o trem que liga o aeroporto à estação central de trem. Chegando lá fui me informando e até corri na frente, deixando minha esposa com as malas, para comprar as passagens. Chegando ao balcão, e realmente, duas passagens apenas aguardavam por nós, eram as últimas, eram juntas – assentos lado a lado e não poderia estar mais perfeito. Eu queria muito viajar nos trens rápidos italianos novamente. E lá fomos nós, felizes e sem brigar. E a recompensa foi espetacular, pelo tempo e pela paisagem.
Hoje, depois de ter estudado muito sobre resiliência, vejo que a minha esposa agiu com muita resiliência e eu também. O estresse do inesperado nos moveu para a ação. E a ação nos livrou do estresse. Tudo em cooperação e não em clima de competição.
Sabe, já perdi a conta do número de vezes que minha esposa e eu já passamos esse mesmo conselho para nossas filhas e outras pessoas.
Para Refletir
Agora, voltando ao nosso assunto principal: sair, ou ser jogado para fora, da zona de conforto é uma questão de tempo apenas, mas esteja certo que você não vai escapar disso, por mais que se planeje e tente controlar as coisas. Porém, lembre-se que a resiliência é a melhor ferramenta para equipar as pessoas no enfrentamento de crises e de adversidades.
Por fim, para cumprir o objetivo deste artigo, chamo à atenção para o desenvolvimento da resiliência. E deixo algumas perguntas para você pensar:
- Se fosse você e seu conjuge que tivessem perdido o vôo em Milão naquele dia, vocês teriam brigado, se ofendido mutuamente e talvez não se falando por algum tempo?
- Como está a sua capacidade de se flexibilizar diante de situações adversas para não criar ou alimentar conflitos?
- Se eu desafiasse você a sair voluntariamente da zona de conforto para alcançar uma transformação pessoal (ou profissional, ou de relacionamento), o que te traria maior recompensa? Você gostaria de explorar melhor esse assunto no processo de coaching?
Lembre-se: você pode escolher deliberadamente sair da zona de conforto para alcançar uma meta ou um sonho, ou mesmo uma mudança de comportamento. Só depende de você.
Se precisar de ajuda, estou por aqui.
Tenha um excelente dia!
Cordialmente,

