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Sobrevivência | Resenha do livro “A Teoria do Bambu”.

A Resiliência para a Sobrevivência – Parte I

Quando sua liberdade é retirada de você e sua vida está sendo constantemente ameaçada em base diária, a resiliência se torna sobrevivência.

O subtítulo desta postagem é o tema que escolhi para destacar e resumir a narrativa apresentada neste livro, a qual nos desperta a refletir sobre a sobrevivência em circunstância em que sua liberdade é retirada de você e a sua vida está diariamente por um fio. Assim, começo com algumas perguntas intrigantes.

Pano de Fundo

Como uma menina de 8 anos, separada de sua família por soldados que serviam ao regime comunista de Mao Tsé-tung, na China, pôde superar esse trauma da separação de sua base familiar?

E se, além dos traumas da separação, ela tivesse sofrido também abusos físicos, morais e sexuais? Como seria a sua vida?

Haveria alguma possibilidade lógica de que essa criança superasse tudo isso e ainda formasse uma família, se formasse por uma universidade americana e viesse a se tornar CEO (presidente) de uma empresa inovadora e de tecnologia de ponta?

Do livro “A TEORIA DO BAMBU – Como a resiliência e a Coragem me tornaram CEO de uma grande empresa de tecnologia”, de autoria de Ping Fu, com MeiMei Fox, retirei a seguinte frase:

“Embora as paisagens mais belas sejam vistas dos picos, são os vales que oferecem as maiores oportunidades de crescimento e desenvolvimento” – Ping Fu.

Mais do que uma simples resenha sobre o livro, faz-se oportuno destacar aprendizados que esta narrativa nos apresenta sobre a importância da resiliência para a sobrevivência.

Em resumo, o livro conta a saga de uma menina de 8 anos que foi subitamente separada de seus pais pelos guardas vermelhos que serviam à Revolução Cultural da China, implantada pelo partido comunista, sob a liderança de Mao Tsé-tung. Esta menina, hoje a autora desse livro, descreve seus traumas sofridos na infância por ter sido classificada como de sangue negro, classificação essa atribuída às pessoas que tinham uma posição financeira e social de média para alta na China. Qualquer pessoa que não fosse operário, ou militar recebia esta classificação.

O Exílio

Ping Fu foi expulsa da China quando tinha 25 anos de idade, após causar a chamada “vergonha internacional”, devido a publicação de sua tese de graduação universitária sobre maus tratos às mulheres no interior da China, publicação essa que ganhou os jornais internacionais, causando constrangimentos ao governo Chinês. Nesta época, a Revolução Cultural Chinesa já havia terminado e o país começava a experimentar um  período de maior abertura econômica e política. Entretanto, algo pior estava para acontecer.

Exilada, ela chega aos Estados Unidos da América sabendo apenas três palavras do inglês, quase sem dinheiro e com apenas um endereço de uma pessoa que poderia ajuda-la.

Enfrentando muitos desafios impostos pela vida em outro país, cultura, costumes, comportamento, língua, relacionamentos, entre outros, ela chega ao posto de CEO (Presidente) de uma grande empresa de tecnologia, descrevendo as diversas fases de enfrentamentos e dificuldades, seus altos e baixos, erros e acertos, levando o leitor a perceber os momentos de virada e os insights (descobertas) que mudaram as diversas situações em seu favor.

A Revolução Cultural Chinesa

Em paralelo, Ping Fu narra, com muita riqueza, como sua força interior e seu sentido para a vida foram decisivos para superar as adversidades e os maus-tratos que sofreu, ainda em tenra idade, pelos soldados vermelhos da Revolução Cultural Chinesa e a consequente implantação do comunismo.

Sua descrição leva o leitor a entender o sofrimento que o povo chinês viveu pela imposição de um governo totalitário e excessivamente controlador. Certamente o leitor vai entender com maior profundidade o que foi esse período de cerca de 10 anos vivido na China e como foi a transição para um modelo mais aberto.

Esse é um diferencial desse livro. É como se o leitor estivesse lendo dois livros ao mesmo tempo: o primeiro sobre a história de sobrevivência, superação e resiliência de uma menina de apenas 8 anos, que à partir dos aprendizados do seu avô sobre os três amigos do inverno chinês pode encontrar o caminho para superar seus traumas e como lidou com cada um deles; e o segundo, com um conteúdo histórico sobre a Revolução Cultural da China, enriquece o leitor com cultura, informação histórica e diversidade.

O bambu é um dos três amigos do inverno, que ela aprendeu com seu avô, em um período de grande estabilidade emocional e familiar, que antecedeu ao evento de separação da família, aos 8 anos de idade. Logo no primeiro capítulo você já vai saber quais são eles.

Comentários Sobre Resiliência

Em resumo, se você foi cativado para conhecer mais detalhes dessa história de vida, esse é um livro cuja leitura recomendo fortemente. Por outro lado, se o seu desejo é apenas estudar resiliência, você vai encontrar neste livro farto material e exemplos.

O título original é “Dobre-se, mas Não Quebre – uma vida em dois mundos”. O uso do bambu no título da edição em português pode conduzir o leitor a um conceito errado de resiliência, que no senso comum é entendida como a capacidade de se curvar (como o bambu ou outra árvore) diante da adversidades (por exemplo: fortes ventos), e retornar para a posição original ou posição normal, logo depois que a ventania passa, como se não tivesse havido uma ventania.

Não se pode simplificar o conceito de resiliência dessa maneira. Portanto, os títulos, tanto no inglês como no português, podem ser bom de vendas, mas não de explicar a resiliência.

Ping Fu, a autora, sofreu muitas adversidades e sua capacidade de se flexibilizar foi a grande chave da sobrevivência. Todavia, a característica de se flexibilizar não significa que, passada a tempestade, a pessoa retorna ao normal como se nada houvesse acontecido.

Vamos devagar agora para não atropelar e confundir.

O primeiro ponto para se refletir sobre resiliência à partir desta narrativa é que nenhuma pessoa que enfrenta períodos longos de adversidades retorna ao normal, como se a tempestade não a tivesse atingido. Uma pessoa com a resiliência melhor desenvolvida pode se adaptar melhor às adversidades da vida, mas afirmar que ela continua a vida sem marcas não é adequado afirmar.

Para Refletir

Com 8 anos de idade, conscientemente a autora não sabia nada sobre resiliência, exceto o que fora ensinado pelo seu avô sobre o bambu. Por outro lado, mesmo criança e sem ninguém que a orientasse, ela mostra como encontrou apoio e suporte emocional para “virar algumas chaves” que deram sentido ao modo sobrevivência, e com isso poder se flexibilizar e continuar viva. Portanto, creio serem estas descobertas o grande aprendizado deste livro quanto à resiliência.

A frase do livro que escolhi para abrir essa resenha já resume o conceito. Assim, as adversidades fazem parte da vida e todas as pessoas enfrentam adversidades, umas com um grau de sofrimento maior do que outras, porém ninguém passa ileso pela vida, sem períodos turbulentos. Nenhuma pessoa consegue passar a sua vida inteira nos picos das montanhas. Isso só acontece no Facebook. Na vida real é diferente.

O Sentido da Vida

Em resiliência, olhando pelo ponto de vista das 8 áreas em que se desenvolve o comportamento resiliente, ela encontrou o sentido da vida e o otimismo para a vida, muito cedo ao ter que cuidar de sua irmã de 4 anos, ao mesmo tempo sofrendo recorrentes maus-tratos, físicos e emocionais, na infância e juventude. Ela foi excelente em ler o ambiente à sua volta (análise de contexto) nas mais diversas circunstâncias. Precisou aprender a duras penas como conquistar e manter pessoas, enquanto descobria que no aspecto empatia (da teoria da resiliência) ela foi se desenvolvendo em direção ao equilíbrio.

Sua autoconfiança, outra área da resiliência, estava muito abalada e numa condição de grande vulnerabilidade, chegando a se expor em reuniões importantes de negócios (já na fase adulta) e, portanto, quase colocando a sua empresa e sua imagem em grande risco. Ela se descreve como ninguém por muitos e muitos anos em sua vida e só se percebe como alguém de valor quando recebe um importante reconhecimento externo.

Em resumo, percebe-se por meio da leitura que em cada etapa de sua vida uma ou mais das áreas de resiliência acima foram consistentemente desenvolvidas, pois sem isso, ela não teria sobrevivido.

Encerro reforçando a recomendação desse livro para seu desenvolvimento pessoal e profissional, bem como para um estudo de caso em resiliência.

Boa leitura!

Por uma grande virada em sua vida,

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